segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A Ciência de Jesus no mercado de transferências

 Sejam muito bem-vindos a este blogue, no qual pretendo, periodicamente, publicar crónicas e análises que podem ir desde a componente tática ao desempenho de um determinado jogador, dos momentos de forma de cada clube ao agitado mercado de transferências, tentando ser o mais abrangente possível e com o desejo de fazer deste espaço um lugar onde a ciência do futebol, em toda a sua magnanimidade, é dissecada de forma isenta, séria e rigorosa.


  Neste primeiro post, inevitavelmente, falarei sobre o homem do momento, Jorge Jesus, esse "operário" do mundo do futebol que "subiu na sua carreira a pulso" (prometo que evitarei este tipo de clichés no futuro) e com o qual se vive uma constante relação de amor/ódio: ora assistimos a grandes vitórias táticas (e não só) com nota artística sobre os seus oponentes como pouco depois o vemos a borrar a pintura em conferências de imprensa (diga-se o que se disser, aqueles comentários acerca da qualificação profissional de Rui Vitória são muito, muito baixinhos...) e a saltar para capas de jornais com declarações pouco ortodoxas. Mas não é sobre isso que vos queria falar hoje. A análise centrar-se-á, isso sim, sobre a política de transferências de Jorge Jesus e a forma como este se movimenta no mercado. Bem sei que muitas vezes certas contratações não são feitas pelo treinador mas sim pelos presidentes ou diretores-desportivos dos clubes. No entanto, para bem desta análise, considerarei que todas as contratações tiveram o seu aval. 

  Comecemos então pelo Sporting deste ano. Esse mesmo Sporting que, e nisto a crítica é praticamente consensual, pratica, neste momento, o futebol de maior qualidade em Portugal:


Bryan Ruiz

  A possibilidade de rumar ao Sporting começou desde cedo a ser veiculada na comunicação social, praticamente na mesma altura ou até antes de o rumor sobre JJassinar  pelo Sporting começar a incendiar o mundo futebolístico português. Vou ser-vos sincero: achei que não ia resultar. Ruiz vinha já de 4 épocas sem grande brilho num Fulham (esteve meia época emprestado ao PSV pelo meio) que acabou entretanto por descer ao Championship e parecia que aquele magnífico jogador que tinha levado ao colo o Twente à conquista do histórico e seu único campeonato holandês parecia perdido. Nessa época, de 09/10, a de estreia, Bryan marcou 30 golos em 44 jogos, sendo que no campeonato apenas ficou atrás de um tal Luis Suárez. No início da sua 3ª época no clube, e depois de 5 golos nos primeiros 8 jogos, deu o salto para a melhor liga do mundo e só a espaços se foi vendo o Ruiz de outros tempos. 

  Não podia estar mais enganado. Já ninguém em Portugal fica indiferente a tanta classe. Ainda recentemente, num mero jogo da agora Taça CTT, Bryan mostrou como o futebol pode ser espetacular naquele simplicíssimo mas recheado de classe chapéu com que fechou o marcador. Também o cruzamento (magnífico) para Slimani no jogo contra o Braga o demonstra. E tantos outros pormenores. Os adeptos sportinguistas reclamam que a sua verdadeira posição é atrás de Slimani mas a verdade é que, seja no apoio ao ponta-de-lança ou como médio esquerdo, este jogador revelou-se uma excelente aquisição e dou, sem qualquer dúvida, sinal positivo à mesma.



Naldo


  Admito que me era completamente desconhecido. Encontra-se a cumprir a 4ª época na Europa e chega, este ano, ao patamar mais elevado da sua carreira depois de já ter passado, por exemplo, pela Udinese. A verdade é que Naldo surpreendeu, na medida em que se revelou um defesa central muito cumpridor, sem inventar e desempenhando praticamente sempre bem o seu papel. Tem beneficiado bastante da débil condição física de Ewerton e, embora não possua a técnica e serenidade deste último, a verdade é que nunca comprometeu e pode mesmo dizer-se que, neste momento, luta com este pelo lugar de 2º central (não há dúvidas de que Paulo Oliveira é o número um). Uma nota para a incrível agilidade deste jogador. E digo incrível porque Naldo mede 1,88m, o que normalmente seria impeditivo de uma grande velocidade e capacidade de reação. Nota positiva também para esta aquisição.


Teo Gutiérrez


  Ao assinar pelo Sporting, Teo cumpre apenas a sua segunda experiência na Europa, apesar de contar já com 30 anos. A sua carreira tem sido feita principalmente (ou pelo menos com maior sucesso) na Argentina, onde representou já 3 clubes. Não é, no entanto, um jogador desconhecido por estes lados e isso deve-se principalmente aos já quase 50 jogos que leva pela Colômbia, mesmo enfrentando concorrência pesada (Falcao, Jackson, Bacca....). As suas duas melhores épocas registaram-se em 2011, pelo Trabzonspor da Turquia (9j 8g) e antes de assinar pelo Sporting, com 19g em 38j pelo River Plate. Ainda que já leve 7 golos esta temporada, Teo tem desiludido um pouco e não parece que tenha vindo acrescentar muito a este Sporting falando-se até de uma possível saída agora neste mercado de Janeiro, ao mesmo tempo que corre o rumor de Luiz Adriano poder ingressar por empréstimo. Para além disso, tem já um histórico considerável de incompatibilização com os clubes que representa e recentemente temeu-se que o mesmo sucedesse quando Teo falhou 4 regressos marcados, depois das férias de natal. Nota negativa (por enquanto).


Ciani


  Um desaste completo. Para quê a contratação de um central quando no plantel já se encontravam outros 4? Bem sei que Ewerton estava lesionado mas a verdade é que Naldo e Paulo Oliveira fizeram juntos os primeiros 7 jogos da época e só ao 8º é que Tobias teve uma oportunidade. O que é que Ciani, com 31 anos e uma carreira discreta, acrescentaria ao plantel? Apenas obrigaria o Sporting a ter mais um encargo salarial. A solução foi rapidamente resolvida, o que não impede uma óbvia nota negativa.




Ažbe Jug


  Não vou ser injusto. Ainda não vimos nada do rapaz. Tal não me impede, porém, de achar esta contratação desnecessária. Com Luís Ribeiro já nos seus 23 anos, Pedro Silva a emergir na equipa B e ainda Stojković (sobrinho do antigo  e homónimo guarda-redes do Sporting), qual o objetivo de contratar um esloveno de 23 anos para fazer simplesmente o papel de 3º guarda-redes? Com Patrício como titular absoluto e Boeck como eterno suplente, não podia este papel ser desempenhado pelo titular da equipa B, à luz do que o FC Porto faz com Raul Gudiño? Aguardemos, posso estar redondamente enganado... Nota negativa.


Schelotto

  
  Parece-me ser outra contratação desnecessária. João Pereira tem-se assumido como titular mas sempre com  a concorrência apertada de Ricardo Esgaio, que até pareceu ter-lhe ganho o lugar numa determinada altura da época. Esgaio é um jovem já com 3 anos de titularidade na equipa B, várias aparições na equipa principal, uma muito boa segunda metade de época na Académica e titular da seleção de sub-21 vice-campeã europeia, tendo tudo para se tornar o dono do lugar nos próximos anos. É verdade que Schelotto veio a custo zero e o seu contrato é temporário (assinou até ao fim da época com mais 2 de opção) mas não me parece que este Italiano, que já vai na sexta equipa nos últimos 4 anos, venha acrescentar alguma coisa. Quanto muito vem retirar minutos a Esgaio, como se viu no jogo contra o Paços de Ferreira para a Taça CTT, o que é uma pena. Vamos esperar para ver mas, na minha opinião, esta contratação tem nota negativa.


Bruno César


  Dá para dizer mal de um jogador que marca 2 golos na sua estreia? Bruno César veio a custo zero (representava o Estoril mas o seu contrato continha uma clásula que lhe permitia rescindir se surgisse uma oferta de um clube mais reputado) e parece ter sido uma muito boa movimentação de Jorge Jesus no mercado. A sua saída do Benfica causou estranheza (Jesus admitiu recentemente que não avalizou a transferência, na altura) pois Bruno, com 24 anos e já depois de ter chegado à seleção, assinou a meio da época pelo Al-Ahli da Arábia Saudita. Os dois golos ao Vitória de Setúbal prometem muito e, até pelo que já se conhece das qualidades do chuta-chuta, parece-me que foi uma contratação acertada. Nota positiva.






  Destas 7 contratações, considerei 4 como negativas. Nem tudo foi mau, no entanto. Antes pelo contrário. Aquilani, um velho conhecido do futebol europeu, revelou-se como uma muita boa alternativa aos 3 magníficos do meio-campo do Sporting (William, Adrien e João Mário), tendo já contribuído com 5 golos e muita classe nos desafios em que participou; João Pereira, embora não tendo começado da melhor forma, está já perto do nível a que habitou os adeptos do Sporting na sua primeira passagem pelo clube e Zeegelaar, embora ainda não se tenha estreado, pelo que demonstrou no Rio Ave afigura-se como uma boa solução a Jefferson, depois da saída por empréstimo de Jonathan Silva.


  No cômputo geral pode dizer-se que Jesus interveio argutamente neste mercado de transferências e quem entrou veio retocar positivamente o plantel do Sporting e oferecer melhores soluções ao mesmo. Numa próxima publicação analisarei com semelhante minúcia a atuação de JJ ao longo dos 6 anos em que serviu o Benfica e onde se verificaram grandes sucessos e descobertas de jogadores, mas onde também muitos flops "assombraram" a política de contratações do treinador.




Até uma próxima!

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