terça-feira, 8 de março de 2016

Brasil: Jonas não é selecionável?


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  Foi anunciada no passado dia 3 de março a mais recente convocatória da seleção do Brasil para os jogos com o Uruguai e Paraguai, sendo que esta se reveste de maior interesse que o habitual por configurar a última antes do grande torneio do continente Americano, a Copa América 2016. Tendo em conta que o tema é a equipa brasileira, pode dizer-se que qualquer opção que o selecionador Dunga tome será discutível, tal a abundância de escolhas e qualidade que sempre caracterizou a equipa com mais títulos de campeão mundial da história. Haverá, ainda assim, algumas mais discutíveis que outras e neste artigo analisarei, posição a posição, os selecionados para os dois próximos confrontos da canarinha.


Guarda-redes
  
  Os goleiros chamados por Dunga foram AlissonMarcelo Grohe e Diego Alves.

  Quanto ao primeiro, trata-se de um jovem guarda-redes que se parece ter assumido como número 1 da seleção, na medida em que foi o titular dos últimos 3 jogos oficiais. Afirmou-se em definitivo na temporada passada no Internacional e estará, em princípio, a caminho da Roma na próxima época.

  Marcelo Grohe, por sua vez, é já um histórico do Grémio, tendo lá feito toda a sua carreira, contando com 2 internacionalizações até ao momento, acumuladas em 2 amigáveis no verão de 2015.

  Por último, Diego Alves, o habitual titular das redes do Valencia nos últimos anos, não representa uma surpresa, na medida em que constitui um nome consensual nas hostes brasileiras, apesar de só registar 9 internacionalizações

  A verdade é que as opções, apesar de serem várias (como é hábito), não são de enorme qualidade: o Brasil não tem, atualmente, um guarda-redes de topo mundial, como o são Neuer, Courtois ou De Gea. Jefferson, Victor ou mesmo Gomes têm sido utilizados nos últimos anos mas todos eles têm 33 anos ou mais e não parecem acrescentar muito neste momento. Neto, atualmente na Juventus depois de bons desempenhos na Fiorentina, poderia ser uma boa alternativa, apesar de não se ter ainda estreado. Ederson, jogador do Benfica, será também uma eventual hipótese no futuro, até porque já é presença assídua na seleção olímpica.

  No entanto, penso que o que causa maior estranheza é o afastamento de Júlio César, o titular do Benfica, desde o Mundial 2014. Justiça seja feita: é difícil esquecer os 7 golos sofridos naquela noite de horror frente à Alemanha, mas o goleiro terá até sido mais vítima que réu, tal a avalanche ofensiva alemã e o desnorte defensivo brasileiro. Contabiliza 87 jogos pela seleção principal e até faria mais sentido a sua chamada agora, em que se encontra em bom plano na sua segunda temporada no clube da Luz, do que em 2014, quando representava o Toronto FC e parecia acabado para o futebol. As suas qualidades são inegáveis e, apesar dos seus 36 anos, penso que ainda poderia ajudar muito na qualificação para o Mundial 2018.

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Defesas

  Pode dizer-se que, em termos defensivos, o Brasil se encontra bem servido. Os defesas-centrais chamados não oferecem grande discussão: MarquinhosDavid Luiz e Miranda são provavelmente os melhores de momento. Já quanto a Gil, sem querer colocar em causa a sua qualidade, não se compreende a sua chamada numa altura em que se transferiu para a China e Thiago Silva, indiscutivelmente melhor, continua a apresentar-se em bom plano no PSG. Refira-se que este último não foi mais chamado desde a Copa América 2015.

  Nas laterais, o problema está provavelmente em quem deixar de fora. Danilo e Daniel Alves oferecem garantias (Fabinho, do Mónaco, tem potencial mas ainda não possui a mesma qualidade) e Filipe Luís e Alex Sandro têm, como maior concorrente, Marcelo (pessoalmente, e apesar de gostar bastante de Alex Sandro, considero que Marcelo deveria até ser o titular do Brasil).

Lance da partida entre Brasil x África do Sul, no Estádio Soccer City, em Joanesburgo. FOTO: Jefferson Bernardes


Médios

  Nesta convocatória Dunga foi coerente com as suas últimas opções, não tendo apresentado nenhuma surpresa. CoutinhoOscarWillian e Douglas Costa, pelo menos, parecem não oferecer discussão, até porque se têm apresentando em bom plano nas suas equipas. Lucas Lima, a estrela do Santos, tem também feito parte das últimas convocatórias. Também Fernandinho e Luiz Gustavo têm sido presenças regulares na seleção, constituindo-se, provavelmente, como os melhores médios-defensivos brasileiros. Outra opção seria Casemiro mas não sou propriamente seu fã, o que não quer dizer que não lhe reconheça qualidade para representar o Brasil.

  As maiores dúvidas poderão colocar-se em relação a Kaká e a Renato Augusto. Kaká pelo avançar da idade, por jogar atualmente na MLS e por já não ser o jogador que em em 2007 venceu o Ballon d'Or. Ainda assim, é um excelente jogador e a Liga Americana tem ganho cada vez maiores níveis de competitividade, permitindo-o manter um nível que o possibilita, como tem sucedido, ser chamado à seleção. Pelo contrário, a Liga Chinesa, para onde se transferiu Renato Augusto, e apesar do esforço dos últimos anos, não se encontra, ainda, ao nível da MLS ou do Brasileirão e muito menos ao nível dos campeonatos europeus. E se, de facto, o jogar em clubes chineses não é um fator impeditivo (pois também Gil lá atua, como já foi referido), mais facilmente se aceitaria a chamada de Ramires.

  Ao nível do meio-campo (e vou incluir aqui também extremos, como o é Douglas Costa), nota para a não convocação de, por exemplo, Lucas Moura, a protagonizar talvez a melhor temporada desde que se mudou para Paris, tendo já concretizado 10 tentos (o máximo no PSG tinha sido 8 golos, na época transata). Também Roberto Firmino é ausência notada, ele que está em claro crescendo de forma, com 7 golos só em 2016, depois de um início de temporada a meio gás. Há ainda BernardHernanes ou mesmo Elias, ainda que a não inclusão destes não constitua surpresa. Rafinha, do Barcelona, será certamente opção quando recuperar da grave lesão que afetou um promissor início de temporada.

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Avançados

  É, sem dúvida, aqui que reside a maior controvérsia. Desde logo, será certamente doloroso para os adeptos da canarinha constatar que uma seleção que, num passado não muito remoto, contava com Ronaldo, Romário, Rivaldo ou Ronaldinho (estes dois últimos não propriamente pontas-de-lança mas ofensivamente desestabilizadores), atravessa uma escassez de avançados. Neymar é o abono de família da equipa e ninguém se atreve, sequer, a questionar a sua inclusão. Hulk é uma força da natureza e mesmo na Rússia tem mantido um registo de golos bastante interessante, até porque não se trata propriamente de um ponta-de-lança. Ricardo Oliveira, o veterano, quase que tem de ser chamado, tal o  registo de 37 golos (20 no Brasileirão, sagrando-se melhor marcador) em 62 jogos alcançado na época anterior. Neste ano, apresenta-se já com 4 golos em 7 jogos no Campeonato Paulista.

  Fred (apesar de apresentar um interessante registo de golos) e  (atualmente na China) parecem já cartas fora do baralho, eles que eram os pontas-de-lança da equipa brasileira no Mundial 2014. Diego Tardelli, que até tinha vindo a integrar algumas convocatórias, não parece uma solução totalmente satisfatória. E poucos mais há a apresentar.

  É aqui que a mais discutível e incompreensível decisão de Dunga se revela: a não chamada de Jonas, avançado do Benfica. À data da convocatória, Jonas era, imagine-se, o líder da Bota de Ouro! Que luxo uma seleção dispensar o melhor marcador europeu. Com todos os argumentos e opiniões pessoais que se possam apresentar, contra ou a favor, factos são factos e Jonas, desde que ingressou no Benfica, leva 59 golos em 70 jogos. E não estamos a falar de um clube de meio da tabela do Qatar. Trata-se do Benfica, a jogar no Campeonato Português e na Liga dos Campeões. E como factos são factos, também é verdade que em 8 jogos contra Sporting e FC Porto Jonas não marcou nenhum golo. E que na Champions, pelo Benfica, fez 2 golos em 7 jogos. Mas não há-de, perante a conjuntura de escassez de avançados já acima demonstrada, um jogador com este registo de golos ser, pelo menos, selecionável? Até porque como se prova pela chamada de Ricardo Oliveira a idade não é um obstáculo. E continuando com a comparação, Jonas até tem mais golos que aquele, que atua num campeonato inferior como é o Brasileirão. Perante isto, é absolutamente inacreditável e inexplicável a não convocação de um jogador que se encontra na luta pelo título de melhor marcador das ligas europeias.

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  Dunga não tem sido absolutamente escandaloso nas escolhas efetuadas neste seu segundo período à frente da seleção brasileira. Como disse logo no início, tal é a abundância, qualquer opção poderá ser sempre discutível. Mas não terá Jonas uma palavra a dizer, pelo menos, na centenária Copa América que se realizará neste verão? Resta esperar pela convocatória final que, certamente, terá de deixar alguns bons jogadores de fora.


Artigo de opinião publicado no site Futebol Portugal - "Brasil: Jonas não é selecionável?"

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Tanto por onde escolher... ou talvez não: O próximo treinador do FC Porto

 A questão mais discutida na última semana no futebol português tem sido a sucessão de Lopetegui. O treinador basco foi demitido do comando técnico do FC Porto, tendo o clube rescindido unilateralmente o seu contrato por falta de acordo entre ambos no processo de rescisão. Muitos nomes se perfilam como hipóteses para assumir o cargo mas a verdade é que, volvida uma semana, ainda não há fumo branco.


  Julen Lopetegui foi anunciado como treinador do FC Porto ainda no final da época 13/14, num ano em que Paulo Fonseca, que venceu a Supertaça (único título do clube desde então), saiu a meio da temporada, sendo interinamente substituído por Luís Castro até final da época. A contratação do espanhol causou enorme surpresa, até porque era praticamente desconhecido no nosso país. Como jogador, o guarda-redes até representou os dois maiores clubes de Espanha (Real Madrid e Barcelona) mas sempre como 2ª opção para a baliza. O seu percurso como treinador começou no Rayo Vallecano, onde acabou a sua carreira de jogador. Fez 11 jogos na 2ª divisão espanhola, tendo vencido apenas dois e, talvez por isso mesmo, acabou por ser dispensado. Seguiu-se, anos mais tarde, uma experiência no Castilla, filial do Real Madrid, até assumir o controlo das seleções jovens espanholas. Comandou os sub-19, sub-20 e sub-21, atingindo o seu ponto alto quando venceu 3 Campeonatos da Europa em três anos consecutivos (2011 e 2012 pelos sub-19 e 2013 pelos sub-21).


  O resto é a história que se conhece. Lopetegui nunca foi um elemento consensual entre os adeptos portistas, muito por causa das suas incompreensíveis escolhas para o onze inicial. O caso mais recente registou-se com Imbula: titular na derrota em casa com o D. Kiev, o francês passou os três jogos seguintes na bancada, regressando para o decisivo jogo em Stamford Bridge que acabou por ditar o afastamento do FC Porto da Liga dos Campeões. Também num jogo com a Académica, em Dezembro, deixou os adeptos à beira de um ataque de nervos quando, a vencer por 3-0, aos 85 minutos, decide fazer entrar Alberto Bueno quando no banco constava André Silva, o jovem avançado que ainda procurava, na altura, a sua estreia pela equipa principal. A estes casos muitos outros se sucederam ao longo deste ano e meio de constante desconfiança relativamente ao que o técnico poderia acrescentar à equipa. O divórcio acabou por se concretizar depois de 3 jogos sem vencer, nos quais se destacam uma derrota com o Marítimo, que pode muito bem ter resultado no afastamento da Taça da Liga, e a derrota com o Sporting, em Alvalade. A melhor memória que deixa é sem dúvida a vitória por 3-1 frente ao poderoso Bayern no Dragão, ainda que na segunda mão tenha sido atropelado por categóricos 6-1.


  O que causa mais estranheza, nesta situação, é a ausência de um plano B por parte da administração do FC Porto, na medida em que decorreu já uma semana e não se vê luz ao fundo do túnel. Por enquanto, Rui Barros vai (e bem) segurando as pontas, como treinador interino. Mas a lista de potenciais treinadores é extensa e as hipóteses levantadas pela comunicação social são muitas. Analisemos então, um a um, os técnicos que têm sido apontados como podendo assumir o comando da equipa:


André Villas-Boas


 É, sem dúvida, o mais desejado pelos adeptos do FC Porto. O glorioso ano que viveu ao serviço do clube, na época 10/11, deixou saudades, não tivesse Villas-Boas conquistado Campeonato, Liga Europa, Taça de Portugal e Supertaça. Abramovich não perdeu tempo e imediatamente recrutou-o para o Chelsea, de onde acabaria por sair já em 2012. Treinou ainda o Tottenham e cumpre neste momento a 3ª época no Zenit, da Rússia, de onde já anunciou que irá sair no final da presente temporada. E é aqui que reside o principal problema: Villas-Boas tem ainda contrato com os russos e uma saída antecipada afigura-se como muito improvável, até porque, apesar de estar a 7 pontos do primeiro lugar no campeonato, está nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões com boas possibilidades de passar à próxima fase. A juntar a este aspeto está o elevado ordenado que o português aufere, na ordem dos 7 milhões de euros limpos por ano. É certo que o portismo de André é assumido e que tal poderia influenciar as negociações, exigindo um salário mais reduzido relativamente ao atual, mas o investimento por parte do FC Porto teria, ainda assim, de ser elevado.


Marco Silva


  Confesso que considero esta hipótese como a mais entusiasmante na medida em que, na eventualidade de Marco Silva ingressar no FC Porto e ser campeão, a escolha de Bruno de Carvalho em dispensá-lo na época transata seria fortemente posta em causa. Ainda assim, pessoalmente, penso que não é uma forte possibilidade: são já 17 jornadas consecutivas sempre a vencer no Olympiacos, um recorde absoluto, tendo apenas sido derrotado esta época por Bayern e Arsenal, na Liga dos Campeões, onde esteve a um passo do apuramento num grupo complicado. O clube não quer, obviamente, deixá-lo sair e o próprio técnico estaria num dilema: abandonar o clube que esperou por ele, no verão, quando estava ainda pendente o processo de rescisão com o Sporting, e no qual tem a passadeira estendida para o seu primeiro campeonato da carreira, ou abraçar o projeto do Porto, a meio da temporada, onde pode ou não ter sucesso. Parece-me pouco provável que, nesta altura, Marco Silva aceitasse um eventual convite dos dragões e, por isso, esta não será das hipóteses mais fortes.


Leonardo Jardim


  O madeirense, atual treinador Monaco, foi outra das hipóteses veiculadas na imprensa, o que é perfeitamente normal tendo em conta as suas qualidades, já demonstradas em território português, principalmente quando, na primeira temporada de Bruno de Carvalho, e com uma equipa completamente nova e que vinha da sua pior classificação de sempre, conseguiu o apuramento para a Liga dos Campeões e colocar o Sporting na luta pelo título praticamente até ao fim do campeonato. No fim dessa época, o projeto desportivo do Monaco era aliciante demais para ser rejeitado e Jardim abraçou a sua segunda experiência no estrangeiro (cumpriu meia época no Olympiakos, com uma saída com muita polémica à mistura...). No entanto, nessa pré-temporada, o treinador português viu James Rodríguez rumar ao Real Madrid e Falcao assinar pelo Manchester United, acabando por perder as duas principais estrelas do clube. O que não o impediu de seguir o seu caminho, conseguindo o 3º lugar no campeonato francês e uma grande vitória sobre o Arsenal na Liga dos Campeões, onde alcançou os quartos-de-final. Na presente temporada não tem sido tão feliz e o próprio já afirmou que se sentia desiludido pela mudança do projeto desportivo do Monaco, que parecia ser de forte investimento e que rapidamente se alterou. Por isso mesmo, talvez Jardim seja a mais forte hipótese dentro dos treinadores com contrato, na medida em que, em comparação com os supracitados, seria o que mais disposto estaria a rescindir (o que não significa que o faça).


Nuno Espírito Santo


  Foi também um nome falado nos media, até porque se encontra atualmente sem clube, depois da saída do Valencia. Não parece, no entanto, a hipótese mais provável. A carreira de Nuno é ainda curta e, apesar do bom desempenho no Rio Ave, onde atingiu as finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga, a sua mudança para Valencia constituiu surpresa. Não estão em causa as suas qualidades como treinador, mas a verdade é que o salto é grande, principalmente quando iria apenas a sua 3ª época como treinador e sem títulos conquistados. O desempenho até foi positivo, conseguindo colocar o Valencia na Liga das Campeões, mas a afición do clube foi sempre implacável com o ex-guarda-redes e a sua saída acabou por se confirmar em finais de Novembro do passado ano. Ainda que seja hipótese, não aparenta ser das mais fortes.


Jesualdo Ferreira


  Dispensa apresentações. Foi tricampeão no FC Porto e o seu nome é guardado com carinho pelos adeptos do clube. Depois de se ter tornado campeão com o Zamalek no Egipto, Jesualdo exerce agora funções no Al-Sadd do Qatar. Ainda que não se afigure como a possiblidade mais forte, será sem dúvida um nome que a administração portista terá equacionado.




Paulo Bento



  Dos treinadores portugueses atualmente sem contrato, será aquele que mais hipóteses terá. Ainda que entre ele e Pinto da Costa tenham sido trocadas algumas indiretas, quando o primeiro era ainda selecionador nacional, a possibilidade de o lisboeta assumir o comando do FC Porto é forte, até porque, apesar de uma carreira ainda curta (como treinador), a sua competência e qualidades são reconhecidas. Destacam-se principalmente as suas duas Taças de Portugal e duas Supertaças (ao serviço do Sporting) e as meias-finais atingidas no Euro-2012, onde Portugal apenas foi eliminado no desempate por grandes penalidades. Encontra-se sem trabalho desde que se demitiu do cargo de selecionador, em 2014, depois da derrota em casa com a Albânia por 1-0.


Sérgio Conceição


  Não surgiu nas primeiras listas de possíveis sucessores a Lopetegui mas tem, nos últimos dias, sido apontado como a mais forte possibilidade. A sua personalidade e caráter vão ao encontro do espírito guerreiro e lutador dos dragões, que representou como jogador, e também ninguém duvida de que se trata de um treinador com qualidade. A questão será se essa qualidade é suficiente para o FC Porto. Atualmente no Vitória de Guimarâes, consta-se que Conceição não aceita servir como solução temporária, isto é, comandar a equipa até final da época, quando André Villas-Boas já estaria disponível. Por isso, terá exigido um contrato de 6 meses, com mais dois de opção e um prolongamento automático do mesmo no caso de se sagrar campeão. FC Porto e Vitória defrontam-se neste domingo e só depois do mesmo é que poderão surgir mais novidades.


  Para além de todos estes nomes, há ainda a hipótese de Rui Barros permanecer como treinador interino até final da época. Seria, sem dúvida, uma solução arriscada, pois o FC Porto está nas meias-finais da Taça de Portugal, está na Liga Europa e no campeonato poderá reduzir a desvantagem para o Sporting para apenas dois pontos. E arriscada simplesmente porque Rui Barros nunca foi treinador principal, tendo sempre assumido papéis de treinador adjunto e de observador no clube (apesar de, em 2006, ter conquistado a Supertaça, depois de substituir Co Adriaanse e antes da chegada de Jesualdo). A hipótese Luís Castro parece ter-se esfumado: a ser solução, provavelmente já o teria sido e não teria Rui Barros assumido interinamente o cargo. Mais possível parece ser o seu ingresso no Vitória, em substituição de Sérgio Conceição, ainda que tal seja mera especulação, de momento. Quanto a treinadores estrangeiros, dos que se encontram atualmente livres, os nomes mais sonantes seriam Marcelo Bielsa e Jorge Sampaoli, este último vencedor da Copa América pelo Chile, cargo que abandonou na última quinta-feira.



  O tempo passa e o substituto de Lopetegui tarda em ser anunciado. A situação não deverá prolongar-se por muito mais tempo e pensa-se que na próxima semana o novo treinador já seja conhecido. Opções não faltam...

A Ciência de Jesus no mercado de transferências

 Sejam muito bem-vindos a este blogue, no qual pretendo, periodicamente, publicar crónicas e análises que podem ir desde a componente tática ao desempenho de um determinado jogador, dos momentos de forma de cada clube ao agitado mercado de transferências, tentando ser o mais abrangente possível e com o desejo de fazer deste espaço um lugar onde a ciência do futebol, em toda a sua magnanimidade, é dissecada de forma isenta, séria e rigorosa.


  Neste primeiro post, inevitavelmente, falarei sobre o homem do momento, Jorge Jesus, esse "operário" do mundo do futebol que "subiu na sua carreira a pulso" (prometo que evitarei este tipo de clichés no futuro) e com o qual se vive uma constante relação de amor/ódio: ora assistimos a grandes vitórias táticas (e não só) com nota artística sobre os seus oponentes como pouco depois o vemos a borrar a pintura em conferências de imprensa (diga-se o que se disser, aqueles comentários acerca da qualificação profissional de Rui Vitória são muito, muito baixinhos...) e a saltar para capas de jornais com declarações pouco ortodoxas. Mas não é sobre isso que vos queria falar hoje. A análise centrar-se-á, isso sim, sobre a política de transferências de Jorge Jesus e a forma como este se movimenta no mercado. Bem sei que muitas vezes certas contratações não são feitas pelo treinador mas sim pelos presidentes ou diretores-desportivos dos clubes. No entanto, para bem desta análise, considerarei que todas as contratações tiveram o seu aval. 

  Comecemos então pelo Sporting deste ano. Esse mesmo Sporting que, e nisto a crítica é praticamente consensual, pratica, neste momento, o futebol de maior qualidade em Portugal:


Bryan Ruiz

  A possibilidade de rumar ao Sporting começou desde cedo a ser veiculada na comunicação social, praticamente na mesma altura ou até antes de o rumor sobre JJassinar  pelo Sporting começar a incendiar o mundo futebolístico português. Vou ser-vos sincero: achei que não ia resultar. Ruiz vinha já de 4 épocas sem grande brilho num Fulham (esteve meia época emprestado ao PSV pelo meio) que acabou entretanto por descer ao Championship e parecia que aquele magnífico jogador que tinha levado ao colo o Twente à conquista do histórico e seu único campeonato holandês parecia perdido. Nessa época, de 09/10, a de estreia, Bryan marcou 30 golos em 44 jogos, sendo que no campeonato apenas ficou atrás de um tal Luis Suárez. No início da sua 3ª época no clube, e depois de 5 golos nos primeiros 8 jogos, deu o salto para a melhor liga do mundo e só a espaços se foi vendo o Ruiz de outros tempos. 

  Não podia estar mais enganado. Já ninguém em Portugal fica indiferente a tanta classe. Ainda recentemente, num mero jogo da agora Taça CTT, Bryan mostrou como o futebol pode ser espetacular naquele simplicíssimo mas recheado de classe chapéu com que fechou o marcador. Também o cruzamento (magnífico) para Slimani no jogo contra o Braga o demonstra. E tantos outros pormenores. Os adeptos sportinguistas reclamam que a sua verdadeira posição é atrás de Slimani mas a verdade é que, seja no apoio ao ponta-de-lança ou como médio esquerdo, este jogador revelou-se uma excelente aquisição e dou, sem qualquer dúvida, sinal positivo à mesma.



Naldo


  Admito que me era completamente desconhecido. Encontra-se a cumprir a 4ª época na Europa e chega, este ano, ao patamar mais elevado da sua carreira depois de já ter passado, por exemplo, pela Udinese. A verdade é que Naldo surpreendeu, na medida em que se revelou um defesa central muito cumpridor, sem inventar e desempenhando praticamente sempre bem o seu papel. Tem beneficiado bastante da débil condição física de Ewerton e, embora não possua a técnica e serenidade deste último, a verdade é que nunca comprometeu e pode mesmo dizer-se que, neste momento, luta com este pelo lugar de 2º central (não há dúvidas de que Paulo Oliveira é o número um). Uma nota para a incrível agilidade deste jogador. E digo incrível porque Naldo mede 1,88m, o que normalmente seria impeditivo de uma grande velocidade e capacidade de reação. Nota positiva também para esta aquisição.


Teo Gutiérrez


  Ao assinar pelo Sporting, Teo cumpre apenas a sua segunda experiência na Europa, apesar de contar já com 30 anos. A sua carreira tem sido feita principalmente (ou pelo menos com maior sucesso) na Argentina, onde representou já 3 clubes. Não é, no entanto, um jogador desconhecido por estes lados e isso deve-se principalmente aos já quase 50 jogos que leva pela Colômbia, mesmo enfrentando concorrência pesada (Falcao, Jackson, Bacca....). As suas duas melhores épocas registaram-se em 2011, pelo Trabzonspor da Turquia (9j 8g) e antes de assinar pelo Sporting, com 19g em 38j pelo River Plate. Ainda que já leve 7 golos esta temporada, Teo tem desiludido um pouco e não parece que tenha vindo acrescentar muito a este Sporting falando-se até de uma possível saída agora neste mercado de Janeiro, ao mesmo tempo que corre o rumor de Luiz Adriano poder ingressar por empréstimo. Para além disso, tem já um histórico considerável de incompatibilização com os clubes que representa e recentemente temeu-se que o mesmo sucedesse quando Teo falhou 4 regressos marcados, depois das férias de natal. Nota negativa (por enquanto).


Ciani


  Um desaste completo. Para quê a contratação de um central quando no plantel já se encontravam outros 4? Bem sei que Ewerton estava lesionado mas a verdade é que Naldo e Paulo Oliveira fizeram juntos os primeiros 7 jogos da época e só ao 8º é que Tobias teve uma oportunidade. O que é que Ciani, com 31 anos e uma carreira discreta, acrescentaria ao plantel? Apenas obrigaria o Sporting a ter mais um encargo salarial. A solução foi rapidamente resolvida, o que não impede uma óbvia nota negativa.




Ažbe Jug


  Não vou ser injusto. Ainda não vimos nada do rapaz. Tal não me impede, porém, de achar esta contratação desnecessária. Com Luís Ribeiro já nos seus 23 anos, Pedro Silva a emergir na equipa B e ainda Stojković (sobrinho do antigo  e homónimo guarda-redes do Sporting), qual o objetivo de contratar um esloveno de 23 anos para fazer simplesmente o papel de 3º guarda-redes? Com Patrício como titular absoluto e Boeck como eterno suplente, não podia este papel ser desempenhado pelo titular da equipa B, à luz do que o FC Porto faz com Raul Gudiño? Aguardemos, posso estar redondamente enganado... Nota negativa.


Schelotto

  
  Parece-me ser outra contratação desnecessária. João Pereira tem-se assumido como titular mas sempre com  a concorrência apertada de Ricardo Esgaio, que até pareceu ter-lhe ganho o lugar numa determinada altura da época. Esgaio é um jovem já com 3 anos de titularidade na equipa B, várias aparições na equipa principal, uma muito boa segunda metade de época na Académica e titular da seleção de sub-21 vice-campeã europeia, tendo tudo para se tornar o dono do lugar nos próximos anos. É verdade que Schelotto veio a custo zero e o seu contrato é temporário (assinou até ao fim da época com mais 2 de opção) mas não me parece que este Italiano, que já vai na sexta equipa nos últimos 4 anos, venha acrescentar alguma coisa. Quanto muito vem retirar minutos a Esgaio, como se viu no jogo contra o Paços de Ferreira para a Taça CTT, o que é uma pena. Vamos esperar para ver mas, na minha opinião, esta contratação tem nota negativa.


Bruno César


  Dá para dizer mal de um jogador que marca 2 golos na sua estreia? Bruno César veio a custo zero (representava o Estoril mas o seu contrato continha uma clásula que lhe permitia rescindir se surgisse uma oferta de um clube mais reputado) e parece ter sido uma muito boa movimentação de Jorge Jesus no mercado. A sua saída do Benfica causou estranheza (Jesus admitiu recentemente que não avalizou a transferência, na altura) pois Bruno, com 24 anos e já depois de ter chegado à seleção, assinou a meio da época pelo Al-Ahli da Arábia Saudita. Os dois golos ao Vitória de Setúbal prometem muito e, até pelo que já se conhece das qualidades do chuta-chuta, parece-me que foi uma contratação acertada. Nota positiva.






  Destas 7 contratações, considerei 4 como negativas. Nem tudo foi mau, no entanto. Antes pelo contrário. Aquilani, um velho conhecido do futebol europeu, revelou-se como uma muita boa alternativa aos 3 magníficos do meio-campo do Sporting (William, Adrien e João Mário), tendo já contribuído com 5 golos e muita classe nos desafios em que participou; João Pereira, embora não tendo começado da melhor forma, está já perto do nível a que habitou os adeptos do Sporting na sua primeira passagem pelo clube e Zeegelaar, embora ainda não se tenha estreado, pelo que demonstrou no Rio Ave afigura-se como uma boa solução a Jefferson, depois da saída por empréstimo de Jonathan Silva.


  No cômputo geral pode dizer-se que Jesus interveio argutamente neste mercado de transferências e quem entrou veio retocar positivamente o plantel do Sporting e oferecer melhores soluções ao mesmo. Numa próxima publicação analisarei com semelhante minúcia a atuação de JJ ao longo dos 6 anos em que serviu o Benfica e onde se verificaram grandes sucessos e descobertas de jogadores, mas onde também muitos flops "assombraram" a política de contratações do treinador.




Até uma próxima!