segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Tanto por onde escolher... ou talvez não: O próximo treinador do FC Porto

 A questão mais discutida na última semana no futebol português tem sido a sucessão de Lopetegui. O treinador basco foi demitido do comando técnico do FC Porto, tendo o clube rescindido unilateralmente o seu contrato por falta de acordo entre ambos no processo de rescisão. Muitos nomes se perfilam como hipóteses para assumir o cargo mas a verdade é que, volvida uma semana, ainda não há fumo branco.


  Julen Lopetegui foi anunciado como treinador do FC Porto ainda no final da época 13/14, num ano em que Paulo Fonseca, que venceu a Supertaça (único título do clube desde então), saiu a meio da temporada, sendo interinamente substituído por Luís Castro até final da época. A contratação do espanhol causou enorme surpresa, até porque era praticamente desconhecido no nosso país. Como jogador, o guarda-redes até representou os dois maiores clubes de Espanha (Real Madrid e Barcelona) mas sempre como 2ª opção para a baliza. O seu percurso como treinador começou no Rayo Vallecano, onde acabou a sua carreira de jogador. Fez 11 jogos na 2ª divisão espanhola, tendo vencido apenas dois e, talvez por isso mesmo, acabou por ser dispensado. Seguiu-se, anos mais tarde, uma experiência no Castilla, filial do Real Madrid, até assumir o controlo das seleções jovens espanholas. Comandou os sub-19, sub-20 e sub-21, atingindo o seu ponto alto quando venceu 3 Campeonatos da Europa em três anos consecutivos (2011 e 2012 pelos sub-19 e 2013 pelos sub-21).


  O resto é a história que se conhece. Lopetegui nunca foi um elemento consensual entre os adeptos portistas, muito por causa das suas incompreensíveis escolhas para o onze inicial. O caso mais recente registou-se com Imbula: titular na derrota em casa com o D. Kiev, o francês passou os três jogos seguintes na bancada, regressando para o decisivo jogo em Stamford Bridge que acabou por ditar o afastamento do FC Porto da Liga dos Campeões. Também num jogo com a Académica, em Dezembro, deixou os adeptos à beira de um ataque de nervos quando, a vencer por 3-0, aos 85 minutos, decide fazer entrar Alberto Bueno quando no banco constava André Silva, o jovem avançado que ainda procurava, na altura, a sua estreia pela equipa principal. A estes casos muitos outros se sucederam ao longo deste ano e meio de constante desconfiança relativamente ao que o técnico poderia acrescentar à equipa. O divórcio acabou por se concretizar depois de 3 jogos sem vencer, nos quais se destacam uma derrota com o Marítimo, que pode muito bem ter resultado no afastamento da Taça da Liga, e a derrota com o Sporting, em Alvalade. A melhor memória que deixa é sem dúvida a vitória por 3-1 frente ao poderoso Bayern no Dragão, ainda que na segunda mão tenha sido atropelado por categóricos 6-1.


  O que causa mais estranheza, nesta situação, é a ausência de um plano B por parte da administração do FC Porto, na medida em que decorreu já uma semana e não se vê luz ao fundo do túnel. Por enquanto, Rui Barros vai (e bem) segurando as pontas, como treinador interino. Mas a lista de potenciais treinadores é extensa e as hipóteses levantadas pela comunicação social são muitas. Analisemos então, um a um, os técnicos que têm sido apontados como podendo assumir o comando da equipa:


André Villas-Boas


 É, sem dúvida, o mais desejado pelos adeptos do FC Porto. O glorioso ano que viveu ao serviço do clube, na época 10/11, deixou saudades, não tivesse Villas-Boas conquistado Campeonato, Liga Europa, Taça de Portugal e Supertaça. Abramovich não perdeu tempo e imediatamente recrutou-o para o Chelsea, de onde acabaria por sair já em 2012. Treinou ainda o Tottenham e cumpre neste momento a 3ª época no Zenit, da Rússia, de onde já anunciou que irá sair no final da presente temporada. E é aqui que reside o principal problema: Villas-Boas tem ainda contrato com os russos e uma saída antecipada afigura-se como muito improvável, até porque, apesar de estar a 7 pontos do primeiro lugar no campeonato, está nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões com boas possibilidades de passar à próxima fase. A juntar a este aspeto está o elevado ordenado que o português aufere, na ordem dos 7 milhões de euros limpos por ano. É certo que o portismo de André é assumido e que tal poderia influenciar as negociações, exigindo um salário mais reduzido relativamente ao atual, mas o investimento por parte do FC Porto teria, ainda assim, de ser elevado.


Marco Silva


  Confesso que considero esta hipótese como a mais entusiasmante na medida em que, na eventualidade de Marco Silva ingressar no FC Porto e ser campeão, a escolha de Bruno de Carvalho em dispensá-lo na época transata seria fortemente posta em causa. Ainda assim, pessoalmente, penso que não é uma forte possibilidade: são já 17 jornadas consecutivas sempre a vencer no Olympiacos, um recorde absoluto, tendo apenas sido derrotado esta época por Bayern e Arsenal, na Liga dos Campeões, onde esteve a um passo do apuramento num grupo complicado. O clube não quer, obviamente, deixá-lo sair e o próprio técnico estaria num dilema: abandonar o clube que esperou por ele, no verão, quando estava ainda pendente o processo de rescisão com o Sporting, e no qual tem a passadeira estendida para o seu primeiro campeonato da carreira, ou abraçar o projeto do Porto, a meio da temporada, onde pode ou não ter sucesso. Parece-me pouco provável que, nesta altura, Marco Silva aceitasse um eventual convite dos dragões e, por isso, esta não será das hipóteses mais fortes.


Leonardo Jardim


  O madeirense, atual treinador Monaco, foi outra das hipóteses veiculadas na imprensa, o que é perfeitamente normal tendo em conta as suas qualidades, já demonstradas em território português, principalmente quando, na primeira temporada de Bruno de Carvalho, e com uma equipa completamente nova e que vinha da sua pior classificação de sempre, conseguiu o apuramento para a Liga dos Campeões e colocar o Sporting na luta pelo título praticamente até ao fim do campeonato. No fim dessa época, o projeto desportivo do Monaco era aliciante demais para ser rejeitado e Jardim abraçou a sua segunda experiência no estrangeiro (cumpriu meia época no Olympiakos, com uma saída com muita polémica à mistura...). No entanto, nessa pré-temporada, o treinador português viu James Rodríguez rumar ao Real Madrid e Falcao assinar pelo Manchester United, acabando por perder as duas principais estrelas do clube. O que não o impediu de seguir o seu caminho, conseguindo o 3º lugar no campeonato francês e uma grande vitória sobre o Arsenal na Liga dos Campeões, onde alcançou os quartos-de-final. Na presente temporada não tem sido tão feliz e o próprio já afirmou que se sentia desiludido pela mudança do projeto desportivo do Monaco, que parecia ser de forte investimento e que rapidamente se alterou. Por isso mesmo, talvez Jardim seja a mais forte hipótese dentro dos treinadores com contrato, na medida em que, em comparação com os supracitados, seria o que mais disposto estaria a rescindir (o que não significa que o faça).


Nuno Espírito Santo


  Foi também um nome falado nos media, até porque se encontra atualmente sem clube, depois da saída do Valencia. Não parece, no entanto, a hipótese mais provável. A carreira de Nuno é ainda curta e, apesar do bom desempenho no Rio Ave, onde atingiu as finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga, a sua mudança para Valencia constituiu surpresa. Não estão em causa as suas qualidades como treinador, mas a verdade é que o salto é grande, principalmente quando iria apenas a sua 3ª época como treinador e sem títulos conquistados. O desempenho até foi positivo, conseguindo colocar o Valencia na Liga das Campeões, mas a afición do clube foi sempre implacável com o ex-guarda-redes e a sua saída acabou por se confirmar em finais de Novembro do passado ano. Ainda que seja hipótese, não aparenta ser das mais fortes.


Jesualdo Ferreira


  Dispensa apresentações. Foi tricampeão no FC Porto e o seu nome é guardado com carinho pelos adeptos do clube. Depois de se ter tornado campeão com o Zamalek no Egipto, Jesualdo exerce agora funções no Al-Sadd do Qatar. Ainda que não se afigure como a possiblidade mais forte, será sem dúvida um nome que a administração portista terá equacionado.




Paulo Bento



  Dos treinadores portugueses atualmente sem contrato, será aquele que mais hipóteses terá. Ainda que entre ele e Pinto da Costa tenham sido trocadas algumas indiretas, quando o primeiro era ainda selecionador nacional, a possibilidade de o lisboeta assumir o comando do FC Porto é forte, até porque, apesar de uma carreira ainda curta (como treinador), a sua competência e qualidades são reconhecidas. Destacam-se principalmente as suas duas Taças de Portugal e duas Supertaças (ao serviço do Sporting) e as meias-finais atingidas no Euro-2012, onde Portugal apenas foi eliminado no desempate por grandes penalidades. Encontra-se sem trabalho desde que se demitiu do cargo de selecionador, em 2014, depois da derrota em casa com a Albânia por 1-0.


Sérgio Conceição


  Não surgiu nas primeiras listas de possíveis sucessores a Lopetegui mas tem, nos últimos dias, sido apontado como a mais forte possibilidade. A sua personalidade e caráter vão ao encontro do espírito guerreiro e lutador dos dragões, que representou como jogador, e também ninguém duvida de que se trata de um treinador com qualidade. A questão será se essa qualidade é suficiente para o FC Porto. Atualmente no Vitória de Guimarâes, consta-se que Conceição não aceita servir como solução temporária, isto é, comandar a equipa até final da época, quando André Villas-Boas já estaria disponível. Por isso, terá exigido um contrato de 6 meses, com mais dois de opção e um prolongamento automático do mesmo no caso de se sagrar campeão. FC Porto e Vitória defrontam-se neste domingo e só depois do mesmo é que poderão surgir mais novidades.


  Para além de todos estes nomes, há ainda a hipótese de Rui Barros permanecer como treinador interino até final da época. Seria, sem dúvida, uma solução arriscada, pois o FC Porto está nas meias-finais da Taça de Portugal, está na Liga Europa e no campeonato poderá reduzir a desvantagem para o Sporting para apenas dois pontos. E arriscada simplesmente porque Rui Barros nunca foi treinador principal, tendo sempre assumido papéis de treinador adjunto e de observador no clube (apesar de, em 2006, ter conquistado a Supertaça, depois de substituir Co Adriaanse e antes da chegada de Jesualdo). A hipótese Luís Castro parece ter-se esfumado: a ser solução, provavelmente já o teria sido e não teria Rui Barros assumido interinamente o cargo. Mais possível parece ser o seu ingresso no Vitória, em substituição de Sérgio Conceição, ainda que tal seja mera especulação, de momento. Quanto a treinadores estrangeiros, dos que se encontram atualmente livres, os nomes mais sonantes seriam Marcelo Bielsa e Jorge Sampaoli, este último vencedor da Copa América pelo Chile, cargo que abandonou na última quinta-feira.



  O tempo passa e o substituto de Lopetegui tarda em ser anunciado. A situação não deverá prolongar-se por muito mais tempo e pensa-se que na próxima semana o novo treinador já seja conhecido. Opções não faltam...

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