terça-feira, 8 de março de 2016

Brasil: Jonas não é selecionável?


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  Foi anunciada no passado dia 3 de março a mais recente convocatória da seleção do Brasil para os jogos com o Uruguai e Paraguai, sendo que esta se reveste de maior interesse que o habitual por configurar a última antes do grande torneio do continente Americano, a Copa América 2016. Tendo em conta que o tema é a equipa brasileira, pode dizer-se que qualquer opção que o selecionador Dunga tome será discutível, tal a abundância de escolhas e qualidade que sempre caracterizou a equipa com mais títulos de campeão mundial da história. Haverá, ainda assim, algumas mais discutíveis que outras e neste artigo analisarei, posição a posição, os selecionados para os dois próximos confrontos da canarinha.


Guarda-redes
  
  Os goleiros chamados por Dunga foram AlissonMarcelo Grohe e Diego Alves.

  Quanto ao primeiro, trata-se de um jovem guarda-redes que se parece ter assumido como número 1 da seleção, na medida em que foi o titular dos últimos 3 jogos oficiais. Afirmou-se em definitivo na temporada passada no Internacional e estará, em princípio, a caminho da Roma na próxima época.

  Marcelo Grohe, por sua vez, é já um histórico do Grémio, tendo lá feito toda a sua carreira, contando com 2 internacionalizações até ao momento, acumuladas em 2 amigáveis no verão de 2015.

  Por último, Diego Alves, o habitual titular das redes do Valencia nos últimos anos, não representa uma surpresa, na medida em que constitui um nome consensual nas hostes brasileiras, apesar de só registar 9 internacionalizações

  A verdade é que as opções, apesar de serem várias (como é hábito), não são de enorme qualidade: o Brasil não tem, atualmente, um guarda-redes de topo mundial, como o são Neuer, Courtois ou De Gea. Jefferson, Victor ou mesmo Gomes têm sido utilizados nos últimos anos mas todos eles têm 33 anos ou mais e não parecem acrescentar muito neste momento. Neto, atualmente na Juventus depois de bons desempenhos na Fiorentina, poderia ser uma boa alternativa, apesar de não se ter ainda estreado. Ederson, jogador do Benfica, será também uma eventual hipótese no futuro, até porque já é presença assídua na seleção olímpica.

  No entanto, penso que o que causa maior estranheza é o afastamento de Júlio César, o titular do Benfica, desde o Mundial 2014. Justiça seja feita: é difícil esquecer os 7 golos sofridos naquela noite de horror frente à Alemanha, mas o goleiro terá até sido mais vítima que réu, tal a avalanche ofensiva alemã e o desnorte defensivo brasileiro. Contabiliza 87 jogos pela seleção principal e até faria mais sentido a sua chamada agora, em que se encontra em bom plano na sua segunda temporada no clube da Luz, do que em 2014, quando representava o Toronto FC e parecia acabado para o futebol. As suas qualidades são inegáveis e, apesar dos seus 36 anos, penso que ainda poderia ajudar muito na qualificação para o Mundial 2018.

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Defesas

  Pode dizer-se que, em termos defensivos, o Brasil se encontra bem servido. Os defesas-centrais chamados não oferecem grande discussão: MarquinhosDavid Luiz e Miranda são provavelmente os melhores de momento. Já quanto a Gil, sem querer colocar em causa a sua qualidade, não se compreende a sua chamada numa altura em que se transferiu para a China e Thiago Silva, indiscutivelmente melhor, continua a apresentar-se em bom plano no PSG. Refira-se que este último não foi mais chamado desde a Copa América 2015.

  Nas laterais, o problema está provavelmente em quem deixar de fora. Danilo e Daniel Alves oferecem garantias (Fabinho, do Mónaco, tem potencial mas ainda não possui a mesma qualidade) e Filipe Luís e Alex Sandro têm, como maior concorrente, Marcelo (pessoalmente, e apesar de gostar bastante de Alex Sandro, considero que Marcelo deveria até ser o titular do Brasil).

Lance da partida entre Brasil x África do Sul, no Estádio Soccer City, em Joanesburgo. FOTO: Jefferson Bernardes


Médios

  Nesta convocatória Dunga foi coerente com as suas últimas opções, não tendo apresentado nenhuma surpresa. CoutinhoOscarWillian e Douglas Costa, pelo menos, parecem não oferecer discussão, até porque se têm apresentando em bom plano nas suas equipas. Lucas Lima, a estrela do Santos, tem também feito parte das últimas convocatórias. Também Fernandinho e Luiz Gustavo têm sido presenças regulares na seleção, constituindo-se, provavelmente, como os melhores médios-defensivos brasileiros. Outra opção seria Casemiro mas não sou propriamente seu fã, o que não quer dizer que não lhe reconheça qualidade para representar o Brasil.

  As maiores dúvidas poderão colocar-se em relação a Kaká e a Renato Augusto. Kaká pelo avançar da idade, por jogar atualmente na MLS e por já não ser o jogador que em em 2007 venceu o Ballon d'Or. Ainda assim, é um excelente jogador e a Liga Americana tem ganho cada vez maiores níveis de competitividade, permitindo-o manter um nível que o possibilita, como tem sucedido, ser chamado à seleção. Pelo contrário, a Liga Chinesa, para onde se transferiu Renato Augusto, e apesar do esforço dos últimos anos, não se encontra, ainda, ao nível da MLS ou do Brasileirão e muito menos ao nível dos campeonatos europeus. E se, de facto, o jogar em clubes chineses não é um fator impeditivo (pois também Gil lá atua, como já foi referido), mais facilmente se aceitaria a chamada de Ramires.

  Ao nível do meio-campo (e vou incluir aqui também extremos, como o é Douglas Costa), nota para a não convocação de, por exemplo, Lucas Moura, a protagonizar talvez a melhor temporada desde que se mudou para Paris, tendo já concretizado 10 tentos (o máximo no PSG tinha sido 8 golos, na época transata). Também Roberto Firmino é ausência notada, ele que está em claro crescendo de forma, com 7 golos só em 2016, depois de um início de temporada a meio gás. Há ainda BernardHernanes ou mesmo Elias, ainda que a não inclusão destes não constitua surpresa. Rafinha, do Barcelona, será certamente opção quando recuperar da grave lesão que afetou um promissor início de temporada.

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Avançados

  É, sem dúvida, aqui que reside a maior controvérsia. Desde logo, será certamente doloroso para os adeptos da canarinha constatar que uma seleção que, num passado não muito remoto, contava com Ronaldo, Romário, Rivaldo ou Ronaldinho (estes dois últimos não propriamente pontas-de-lança mas ofensivamente desestabilizadores), atravessa uma escassez de avançados. Neymar é o abono de família da equipa e ninguém se atreve, sequer, a questionar a sua inclusão. Hulk é uma força da natureza e mesmo na Rússia tem mantido um registo de golos bastante interessante, até porque não se trata propriamente de um ponta-de-lança. Ricardo Oliveira, o veterano, quase que tem de ser chamado, tal o  registo de 37 golos (20 no Brasileirão, sagrando-se melhor marcador) em 62 jogos alcançado na época anterior. Neste ano, apresenta-se já com 4 golos em 7 jogos no Campeonato Paulista.

  Fred (apesar de apresentar um interessante registo de golos) e  (atualmente na China) parecem já cartas fora do baralho, eles que eram os pontas-de-lança da equipa brasileira no Mundial 2014. Diego Tardelli, que até tinha vindo a integrar algumas convocatórias, não parece uma solução totalmente satisfatória. E poucos mais há a apresentar.

  É aqui que a mais discutível e incompreensível decisão de Dunga se revela: a não chamada de Jonas, avançado do Benfica. À data da convocatória, Jonas era, imagine-se, o líder da Bota de Ouro! Que luxo uma seleção dispensar o melhor marcador europeu. Com todos os argumentos e opiniões pessoais que se possam apresentar, contra ou a favor, factos são factos e Jonas, desde que ingressou no Benfica, leva 59 golos em 70 jogos. E não estamos a falar de um clube de meio da tabela do Qatar. Trata-se do Benfica, a jogar no Campeonato Português e na Liga dos Campeões. E como factos são factos, também é verdade que em 8 jogos contra Sporting e FC Porto Jonas não marcou nenhum golo. E que na Champions, pelo Benfica, fez 2 golos em 7 jogos. Mas não há-de, perante a conjuntura de escassez de avançados já acima demonstrada, um jogador com este registo de golos ser, pelo menos, selecionável? Até porque como se prova pela chamada de Ricardo Oliveira a idade não é um obstáculo. E continuando com a comparação, Jonas até tem mais golos que aquele, que atua num campeonato inferior como é o Brasileirão. Perante isto, é absolutamente inacreditável e inexplicável a não convocação de um jogador que se encontra na luta pelo título de melhor marcador das ligas europeias.

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  Dunga não tem sido absolutamente escandaloso nas escolhas efetuadas neste seu segundo período à frente da seleção brasileira. Como disse logo no início, tal é a abundância, qualquer opção poderá ser sempre discutível. Mas não terá Jonas uma palavra a dizer, pelo menos, na centenária Copa América que se realizará neste verão? Resta esperar pela convocatória final que, certamente, terá de deixar alguns bons jogadores de fora.


Artigo de opinião publicado no site Futebol Portugal - "Brasil: Jonas não é selecionável?"

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